MISSIONÁRIO MIGUEL E A HIPOCRISIA DA DIREITA CRISTÃ

Nos últimos dias, um nome tem se destacado em nossos debates internos, especialmente entre aqueles que fazem parte da direita cristã: o do adolescente Miguel. Conhecido por suas práticas questionáveis dentro das igrejas, como falsas curas, falsos dons espirituais e pedidos de dinheiro de forma desonesta, Miguel tem gerado controvérsia. E aqui começa o ponto de estranheza: enquanto defendemos que adolescentes devem ser responsabilizados pelos seus atos quando discutimos a diminuição da maioridade penal, agora, quando se trata de Miguel, da nossa própria comunidade, pedimos calma e compreensão, alegando que ele não sabe o que está fazendo. Por que essa discrepância?
O que vejo aqui é uma hipocrisia flagrante que precisa ser exposta. Em muitos debates públicos, especialmente na direita cristã, somos rápidos em afirmar que adolescentes devem ser responsabilizados por seus atos. A diminuição da maioridade penal, defendida por muitos de nós, baseia-se na ideia de que um jovem, ao cometer um crime, está ciente das consequências de suas ações e, portanto, deve ser tratado de acordo com a gravidade do seu erro. Esse é o argumento com o qual defendemos que os jovens, ao cometerem delitos graves, como homicídios ou assaltos, devem ser punidos com rigor. O conceito de “saber o que se faz” é o cerne dessa discussão.
Mas, quando o protagonista é um adolescente da nossa comunidade, Miguel, que está enganando pessoas e distorcendo a fé, a lógica parece mudar. De repente, passamos a tratar Miguel com uma suavidade que não aplicaríamos a um adolescente de outro contexto. No caso dele, muitos têm argumentado que ele “não sabe o que faz”, que ele é apenas um jovem perdido, alguém que ainda está descobrindo a vida, e por isso devemos ter mais paciência. Fico me perguntando: será que esse argumento seria o mesmo caso Miguel não estivesse envolvido em práticas religiosas ou se não fizesse parte da nossa bolha política e social? Ou será que estamos fazendo concessões com base no fato de ele ser um “dos nossos”?
É irônico, para não dizer doloroso, ver como muitos dos mesmos que defendem a diminuição da maioridade penal agora se tornam tão flexíveis quando o assunto é alguém de sua própria comunidade. Esse paradoxo é um reflexo claro de uma hipocrisia insustentável: quando é conveniente, tratamos o erro de alguém com o peso da responsabilidade, mas quando esse erro vem de dentro, da nossa própria fé, nos tornamos complacentes, alegando “ignorância” ou “falta de maturidade”. Quando isso se trata de Miguel, não podemos esquecer que ele não está apenas cometendo erros de juventude. Ele está utilizando a fé de pessoas inocentes como uma ferramenta para engano e exploração. Ele sabe exatamente o que está fazendo, mesmo que, em algumas de suas ações, possa aparentar ingenuidade.
Agora, quero chamar atenção para as pessoas que, de maneira confortável e conivente, defendem Miguel nas redes sociais e em círculos próximos. Muitos, mesmo sem envolvimento político direto com Miguel, têm se posicionado, pedindo paciência, dizendo que ele está apenas sendo “adolescente” e que sua “maturidade” vai vir com o tempo. No entanto, essas mesmas pessoas não hesitam em ser implacáveis com jovens em situações bem mais sérias, como crimes cometidos em bairros distantes, onde a condenação é muitas vezes imediata. Por que esse tratamento diferenciado? O que acontece quando o infrator éum de nós, quando ele compartilha da mesma fé ou da mesma visão de mundo? Será que estamos realmente interessados em justiça e coerência, ou apenas em proteger a nossa “tribo”?
Ao mesmo tempo, é importante destacar que Miguel, ao contrário do que muitos pensam, não está envolvido com política partidária. Ele não faz parte do debate político e não é uma peça diretamente inserida nas discussões sobre segurança pública, por exemplo. Porém, a reação que temos para com ele é um reflexo direto de um problema maior dentro da nossa própria ideologia e dentro da nossa direita cristã: a hipocrisia seletiva. Se estamos pedindo a diminuição da maioridade penal com base no entendimento de que um adolescente sabe o que está fazendo, por que tratar Miguel de maneira diferente? O argumento da “juventude” ou “desinformação” não deve ser um critério para justificar o erro, especialmente quando esse erro afeta outras vidas e corrompe a fé de pessoas que buscam uma conexão genuína com Deus.
A verdade é que a fé verdadeira não é cúmplice do erro, e, como cristãos, somos chamados a ser agentes da verdade, não da conveniência. Se o erro de Miguel é grave, ele deve ser tratado com a mesma seriedade com que tratamos qualquer outro jovem que, sabendo o que faz, prejudica outros. E essa posição não deve ser suavizada pelo fato de ele ser alguém “da nossa casa”, “da nossa igreja” ou “da nossa direita”. Não podemos fechar os olhos para a hipocrisia que se infiltra quando nos colocamos em uma posição confortável de defesa de nossos próprios, enquanto deixamos os princípios da justiça e da verdade de lado.
É hora de enxergarmos a realidade sem as lentes da conveniência. Se queremos realmente ser uma voz de integridade e justiça, devemos tratar todos os casos de maneira equânime, sem fazer concessões baseadas em quem está no centro do erro. Miguel, por mais jovem que seja, está sendo uma influência negativa, e, como cristãos, não podemos permitir que esse tipo de comportamento seja perpetuado. Não devemos tratar a fé como uma moeda de troca para interesses pessoais ou para proteger aqueles que, ao invés de curar, estão espalhando mentiras. Que possamos aprender a agir com coerência, tanto nas questões de justiça quanto nos assuntos internos da nossa fé.
Só assim seremos verdadeiramente fiéis à nossa missão e aos valores que defendemos.

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