Vivemos em uma era marcada por contradições profundas. Enquanto a tecnologia promete nos conectar mais do que nunca, o vazio existencial, a solidão e a desconexão com a realidade e com o Criador parecem crescer em proporções alarmantes. Um exemplo emblemático desse colapso espiritual e moral pode ser visto na ascensão dos chamados bebês reborn — bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos, muitas vezes tratados como verdadeiros filhos por mulheres adultas. Embora a cultura tente disfarçar esse fenômeno com rótulos como “colecionismo” ou “terapia”, não é difícil perceber o vazio espiritual que ele revela — e que a Palavra de Deus já havia anunciado.
A Origem dos Bebês Reborn: De Solução Econômica à Simulação Emocional
O termo reborn significa “renascido”, e a ideia por trás dessas bonecas começou ainda durante a Segunda Guerra Mundial, quando mães inglesas, em meio à escassez de recursos e brinquedos, reformavam as bonecas antigas das filhas para presenteá-las. Era uma solução prática e carinhosa em tempos difíceis.
Nos anos 1980, esse conceito evoluiu. A americana Joyce Moreno é considerada pioneira na criação de bonecas com aparência realista, dando origem ao que hoje conhecemos como “bebês reborn”. O objetivo inicial era produzir bonecas que se parecessem com bebês reais — mas o que era apenas um avanço técnico no artesanato se transformou, com o tempo, em uma expressão emocional profunda e, em muitos casos, preocupante.
Romanos 1:21-25 — A Troca da Verdade pela Mentira
“…mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais à criatura do que ao Criador…” (Romanos 1:25)
Essa advertência bíblica revela a raiz do problema: ao rejeitarmos a verdade de Deus, passamos a criar e adorar substitutos. Os bebês reborn, originalmente brinquedos, hoje ocupam o lugar de filhos para muitas mulheres. Embora muitas afirmem que são apenas colecionadoras, suas ações — como dar nomes, vestir, alimentar e levar os bonecos para passeios — revelam uma ligação emocional profunda. E mais: exigem validação social para essa prática, rejeitando críticas e qualquer forma de desconstrução dessa ilusão.
O apóstolo Paulo descreve em Romanos 1:21-25 o processo pelo qual a humanidade, ao rejeitar o conhecimento de Deus, passa a adorar a criatura no lugar do Criador:
“Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discursos, desvaneceram-se, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível […] pelo que também Deus os entregou […] a paixões infames […] pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais à criatura do que ao Criador.”
Essa passagem é um retrato preciso do que estamos vendo. Ao rejeitarmos a ordem criada por Deus — especialmente a família, a maternidade, a vida e o valor da pessoa humana — passamos a criar substitutos artificiais e inanimados para preencher o que apenas a comunhão com Deus e com o próximo pode satisfazer.
A Ilusão do Afeto: “Filhos” Sem Vida
Embora as “mães reborn” afirmem ser apenas colecionadoras, suas atitudes revelam algo mais profundo: um forte vínculo emocional com objetos inanimados, que são vestidos, alimentados, passeados e até tratados como filhos. A psicologia pode tentar explicar isso como uma forma de terapia ou elaboração do luto, especialmente em casos de demência ou perdas traumáticas. Mas há um limite tênue entre o simbólico e o substitutivo — e quando a boneca se torna o “filho ideal” que não chora, não adoece, não exige renúncia, estamos diante de um culto ao eu.
A Maternidade Sem Sacrifício e o Filho Sem Alma
Impulsionadas por uma cultura feminista que rotula a maternidade como prisão ou autoaniquilação, muitas mulheres foram levadas a evitar filhos reais. No entanto, o instinto materno não desaparece. A maternidade está lá! É uma inclinação natural e divina, essa latência ainda grita — e os bebês reborn surgem como uma alternativa “segura”, sem o custo real da maternidade. Um filho que não exige afeto real, que pode ser desligado ou deixado de lado. Como afirmou uma psicóloga perinatal ao Correio Braziliense, “o bebê reborn não exige afetividade real”.
Essa é uma nova forma de relação: unilateral, controlada, que nunca confronta ou frustra. O amor autêntico é substituído por uma simulação, e o outro — neste caso, o bebê — não precisa mais ser uma pessoa. Basta ser um simulacro.
Novamente, há ainda o uso terapêutico desses bonecos para mulheres em luto ou com demência, embora os estudos nessa área sejam escassos. O que chama atenção é a transformação desses objetos em instrumentos de substituição emocional e afetiva, num contexto de crescente desumanização.
O Transumanismo e a Indústria da Desumanização
Michel Foucault, um dos ícones do pensamento pós-moderno, certa vez perguntou: “O homem está morto?”. Sua pergunta ecoa na cultura atual, em que o humano é cada vez mais descartável. A ascensão dos bebês reborn é parte de uma indústria maior: a indústria do transumanismo e da desumanização.
Essa indústria não parou no artesanato. Atualmente, há uma verdadeira corrida para integrar cada vez mais a Inteligência Artificial a esses bonecos, fazendo com que eles chorem, interajam e até simulem amamentação. O objetivo? Criar companhias inanimadas que não confrontem, não digam “não” e que satisfaçam emocionalmente seus donos — neste caso, seus “pais”.
Essa nova forma de “relacionamento” com seres artificiais é a ponta de lança do transumanismo: a tentativa de substituir o humano por algo controlável, programável e emocionalmente conveniente. Isso é o culto ao eu, é a idolatria de si mesmo em forma de boneco.
Famílias Reais São Substituídas por Fantasias
Enquanto isso, milhares de crianças reais aguardam adoção. Dados mostram que há mais de 46 mil pessoas cadastradas no sistema nacional de adoção, mas a grande maioria recusa crianças com mais de 10 anos. A preferência por bebês reborn, em vez de filhos reais, revela o que estamos nos tornando: uma geração que foge do amor sacrificial, da família e da responsabilidade.
A quem serve a destruição da família, o ódio entre os sexos, a promoção da pornografia e do hedonismo como estilo de vida? A quem interessa que homens e mulheres deixem de se relacionar, de formar lares, de gerar e criar filhos?
A resposta é espiritual: interessa a um sistema espiritual de trevas que quer destruir a imagem de Deus na humanidade. Ao inimigo de nossas almas, que veio “para roubar, matar e destruir” (João 10:10). Mas Jesus veio para dar vida — e vida em abundância.
A Igreja de Cristo e o Chamado à Verdade
Como Igreja precisamos estar atentos a esses sinais. Como Igreja de Cristo precisamos reafirmar o nosso chamado à Verdade. Precisamos enxergar além das aparências do zombar e ridicularizar. O fenômeno dos bebês reborn não é apenas um modismo inofensivo. É preciso compreender isso como mais uma consequência do Pecado Original que depravou o homem, aprisionando-o na mentira. Nosso dever? Oferecer a Verdade que liberta! As mulheres que recorrem a bebês reborn não são inimigas — são almas feridas, carentes de sentido e de salvação. Precisam ouvir o evangelho da reconciliação, da restauração e da verdadeira maternidade, vivida com dignidade, sacrifício e amor.
Que voltemos os olhos ao Criador, e não às criaturas. Que em meio ao relativismo de meias verdades que nada mais são do que mentiras inteiras; ratifiquemos a Verdade Absoluta que é o Evangelho de Cristo. Que reafirmemos o valor do ser humano real, criado à imagem e semelhança de Deus. E que sejamos luz num mundo que, em sua loucura, tenta renascer com bonecos, enquanto rejeita o único que realmente pode nos fazer nascer de novo: Jesus Cristo.
Referências
ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância. Adoção tardia aumenta em 2023, mas só 2% dos pretendentes aceitam crianças com mais de 10 anos. Disponível em: https://andi.org.br/infancia_midia/adocao-tardia-aumenta-em-2023-mas-so-2-dos-pretendentes-aceitam-criancas-com-mais-de-10-anos/. Acesso em: 17 maio 2025.
CLIQUE PETRÓLEO E GÁS. Nova lei cria programa de saúde mental para pais e mães de bebê reborn (AFCH). Disponível em: https://clickpetroleoegas.com.br/nova-lei-cria-programa-de-saude-mental-para-pais-e-maes-de-bebe-reborn-afch/. Acesso em: 17 maio 2025.
CORREIO BRAZILIENSE. Mães de bebê reborn: o que está por trás do fenômeno. 2025. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/brasil/2025/05/7147261-maes-de-bebe-reborn-o-que-esta-por-tras-do-fenomeno.html. Acesso em: 17 maio 2025.
CORREIO BRAZILIENSE. Bebê reborn não exige afetividade real, explica psicóloga perinatal do HMIB. 2025. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2025/05/7147746-bebe-reborn-nao-exige-afetividade-real-explica-psicologa-perinatal-do-hmib.html. Acesso em: 17 maio 2025.
DW BRASIL. Coluna: Mania dos bebês reborn – vale tudo para viralizar? Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/coluna-mania-dos-beb%C3%AAs-reborn-vale-tudo-para-viralizar/a-72526519. Acesso em: 17 maio 2025.
BORG, Nine. Que febre é essa de bebês reborns – o que está por detrás – Parte 1 / A morte da conexão humana – a era da IA chegou – Parte 2. Publicado no Instagram: @nineborg. Disponível em: https://www.instagram.com/nineborg/. Acesso em: 17 maio 2025.
PERIÓDICO UEPG. Fila nacional de adoção conta com mais de 46 mil pendentes cadastrados. Disponível em: https://periodico.sites.uepg.br/index.php/todas-as-noticias/3249-fila-nacional-de-adocao-conta-com-mais-de-46-mil-pendentes-cadastrados. Acesso em: 17 maio 2025.
REVISTA CULT. Bebê reborn. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/bebe-reborn/. Acesso em: 17 maio 2025.
RIOS DE NOTÍCIAS. A febre dos bebês reborn é um meio simbólico para suprir as necessidades emocionais, avalia psicóloga. Disponível em: https://www.riosdenoticias.com.br/a-febre-dos-bebes-reborn-e-um-meio-simbolico-para-suprir-as-necessidades-emocionais-avalia-psicologa/. Acesso em: 17 maio 2025.

Graduado em Segurança Pública, Pós-graduado em Direito Constitucional, Pós-graduado em Direito Penal e Processo Penal e aluno de graduação em Teologia.