A análise comparativa entre o Dispensacionalismo e o Aliancismo revela não apenas duas abordagens distintas de interpretação bíblica, mas também um rico legado histórico e teológico que se estende desde a Igreja Primitiva até a Reforma Protestante. Embora ambos os métodos tenham sido formalmente sistematizados nos séculos XIX e XVI, respectivamente, suas raízes e conceitos podem ser rastreados até os primeiros séculos do Cristianismo e através do desenvolvimento teológico da Idade Média. O dispensacionalismo e o aliancismo representam duas abordagens teológicas significativas na interpretação das Escrituras. Estes métodos moldaram de maneira substancial a teologia cristã contemporânea.
Este artigo busca explorar as origens e conexões históricas, destacando os principais autores, historiadores e teólogos cujas obras elucidam a evolução dessas interpretações desde a Igreja primitiva, bem como, realizar um comparativo honesto entre esses métodos, incluindo a perspectiva dos maiores teólogos brasileiros defensores de cada abordagem.
O PROTODISPENSACIONALISMO NA IGREJA PRIMITIVA
A ideia de diferentes administrações divinas ao longo da história não é completamente nova no cristianismo. Elementos de um pensamento proto-dispensacionalista podem ser encontrados nos escritos de teólogos da Igreja Primitiva. Irineu de Lyon, em sua obra “Contra as Heresias” (Adversus Haereses), mencionou diversas economias (administrações) divinas, sugerindo uma divisão histórica da revelação de Deus à humanidade. Essa perspectiva, embora não sistematizada como no moderno dispensacionalismo, aponta para uma compreensão dinâmica da história da salvação.
Durante a Idade Média, a noção de períodos distintos na história redentiva continuou a ser explorada. Joaquim de Fiore, um abade italiano do século XII, é conhecido por sua teoria das três eras: a Era do Pai, a Era do Filho, e a Era do Espírito Santo, conforme detalhado em suas obras “Expositio in Apocalypsim” e “Liber Figurarum”. Embora suas ideias não se alinhem diretamente com o dispensacionalismo contemporâneo, sua visão histórica-escatológica influenciou a maneira como os teólogos medievais viam a progressão da história sagrada.
ALIANCISMO NA IGREJA PRIMITIVA E MEDIEVAL
A teologia da aliança tem suas raízes profundas na tradição bíblica e patrística. A Igreja Primitiva frequentemente interpretava as Escrituras através de uma hermenêutica que enfatizava a continuidade da revelação de Deus. Agostinho de Hipona, em suas obras “De Civitate Dei” (A Cidade de Deus) e “Confessiones” (Confissões), elaborou uma teologia que integrava a antiga e a nova aliança, vendo a Igreja como a herdeira das promessas feitas a Israel.
Na Idade Média, Tomás de Aquino, um dos mais influentes teólogos da cristandade, contribuiu significativamente para a teologia da aliança em sua “Summa Theologica”. Tomás argumentou que a Nova Aliança em Cristo é a realização e o cumprimento das promessas da Antiga Aliança, refletindo uma continuidade que é central ao pensamento aliancista. Suas exegeses bíblicas e a maneira como ele correlacionava o Antigo e o Novo Testamento foram fundamentais para o desenvolvimento subsequente da teologia da aliança.
HISTORIADORES E TEÓLOGOS CONTEMPORÂNEOS
Vários historiadores e teólogos contemporâneos têm estudado essas ligações históricas, proporcionando uma compreensão mais profunda de como o Dispensacionalismo e o Aliancismo evoluíram. Richard Bauckham, em “The Theology of the Book of Revelation”, e Alister McGrath, em “Christian Theology: An Introduction”, oferecem insights valiosos sobre a progressão dessas ideias desde a Igreja Primitiva até os desenvolvimentos modernos. Geoffrey Bromiley, em “Historical Theology: An Introduction”, também examina as influências medievais na teologia reformada, destacando a importância das alianças.
Portanto, ao examinar o Dispensacionalismo e o Aliancismo, é essencial reconhecer suas raízes históricas e teológicas que precedem a Reforma Protestante. Compreender essas origens ajuda a contextualizar as diferenças e semelhanças entre esses métodos de interpretação bíblica, proporcionando uma base sólida para o estudo comparativo que segue.
EXPLICANDO O DISPENSACIONALISMO
O Dispensacionalismo representa um sistema teológico que se baseia em duas estruturas centrais:
- Interpretação literal das profecias bíblicas
- Separação entre Israel e a igreja dentro do plano divino.
Defensores dessa perspectiva argumentam que a Bíblia endossa claramente essa abordagem. O cumprimento literal das profecias referentes a Jesus Cristo no Antigo Testamento é visto como prova inequívoca dessa posição. Consequentemente, esse ponto de vista enfatiza a superioridade do método literal de interpretação. A falta de adoção da interpretação literal no estudo das Escrituras poderia resultar na ausência de um critério objetivo para sua compreensão. Sob essa premissa, a TEOLOGIA DISPENSACIONALISTA sustenta a ideia de dois grupos distintos: ISRAEL E A IGREJA.
Este método divide a história bíblica em diferentes períodos chamados “dispensações,” nos quais Deus administra a história e revela Sua vontade de maneiras distintas. AS DISPENSAÇÕES geralmente incluem:
- Inocência (Gênesis 1:28-30)
- Consciência (Gênesis 3:7)
- Governo Humano (Gênesis 8:15)
- Promessa (Gênesis 12:1)
- Lei (Êxodo 19:1-8)
- Graça (João 1:17)
- Reino Milenar (Apocalipse 20:4-6)
PRINCIPAIS AUTORES DO DISPENSACIONALISMO
- John Nelson Darby
- Obra: “Escritos Coletivos”
- Descrição: Fundador do dispensacionalismo moderno, Darby escreveu extensivamente sobre suas visões teológicas, incluindo a divisão da história bíblica em dispensações distintas.
- Eu.Scofield
- Obra: “Bíblia de Referência Scofield”
- Descrição: Uma Bíblia de estudo influente que incorpora notas e referências explicando a interpretação dispensacionalista das Escrituras.
- Lewis Sperry Chafer
- Obra: “Teologia Sistemática”
- Descrição: Um tratado teológico abrangente que inclui uma apresentação detalhada do dispensacionalismo e suas doutrinas fundamentais.
- Charles Ryrie
- Obra: “Dispensacionalismo Hoje”
- Descrição: Uma defesa contemporânea do dispensacionalismo, explicando suas bases teológicas e respondendo a críticas comuns.
- John F. Walvoord
- Obra: “A Questão do Arrebatamento”
- Descrição: Analisa a doutrina do arrebatamento, uma crença central no dispensacionalismo, explorando suas bases bíblicas e teológicas.
- Dwight Pentecostes
- Obra: “Coisas que virão”
- Descrição: Uma obra extensa sobre escatologia, abordando as profecias bíblicas e a visão dispensacionalista do futuro.
Esses autores e suas obras são fundamentais para a compreensão e desenvolvimento do dispensacionalismo, influenciando gerações de teólogos e estudantes da Bíblia.
EXPLICANDO O ALIANCISMO OU TEOLOGIA DO PACTO
A teologia do pacto, também conhecida como aliancismo, advoga a ideia de que Deus estabeleceu um único pacto com a humanidade, representado pelos Santos do Antigo e do Novo Testamento. Essa perspectiva enfatiza a unidade do povo de Deus e um único plano para toda a humanidade. A espiritualização das promessas feitas a Israel no Antigo Testamento e sua aplicação à igreja no Novo Testamento são justificadas pela rejeição de Israel e de seu Messias.
Os defensores da teologia do pacto adotam uma INTERPRETAÇÃO NÃO LITERAL DAS PROFECIAS, como exemplificado no capítulo 20 do Apocalipse, que descreve o reino milenar de Cristo, para eles, o número mil na passagem é simbólico e não deve ser interpretado literalmente.
Este método se baseia na ideia de que Deus interage com a humanidade através de uma série de ALIANÇAS TEOLÓGICAS:
- Aliança das Obras (com Adão) – (Gênesis 2:16-17)
- Aliança da Graça (após a queda) – (Gênesis 3:15)
- Aliança com Noé (Gênesis 9:9-17)
- Aliança com Abraão (Gênesis 15:18)
- Aliança Mosaica (Êxodo 19:5-6)
- Aliança Davídica (2 Samuel 7:12-16)
- Nova Aliança em Cristo (Lucas 22:20)
Teólogos como Heinrich Bullinger, com sua obra “Decades” (1549-1551), e Herman Witsius, autor de “The Economy of the Covenants Between God and Man” (1677), foram fundamentais na sistematização dessa abordagem teológica.
PRINCIPAIS AUTORES DO ALIANCISMO
- João Calvino
- Obra: “Institutas da Religião Cristã”
- Descrição: Uma das principais obras da teologia reformada, onde Calvino expõe suas doutrinas sobre a fé cristã, incluindo suas visões sobre os pactos divinos.
- Heinrich Bullinger
- Obra: “Décadas”
- Descrição: Uma série de cinquenta sermões que abrangem doutrinas fundamentais do cristianismo, incluindo discussões sobre os pactos de Deus.
- Herman Witsius
- Obra: “A Economia das Alianças entre Deus e o Homem”
- Descrição: Uma obra detalhada sobre a teologia dos pactos, explorando a estrutura e a função dos pactos na relação entre Deus e a humanidade.
- Geerhard Vos
- Obra: “Teologia Bíblica: Antigo e Novo Testamento”
- Descrição: Uma análise histórica e teológica da Bíblia, destacando a progressão dos pactos ao longo do Antigo e Novo Testamentos.
- Meredith G. Kline
- Obra: “Prólogo do Reino”
- Descrição: Explora a teologia do pacto com ênfase na criação e na história da redenção, oferecendo uma visão profunda sobre a narrativa bíblica.
- Michael Horton
- Obra: “Introduzindo a Teologia da Aliança”
- Descrição: Um livro introdutório que explica os fundamentos da teologia dos pactos e sua importância para a fé cristã.
- Palmer Robertson
- Obra: “O Cristo das Alianças”
- Descrição: Uma abordagem cristocêntrica da teologia dos pactos, examinando como Cristo é central na revelação dos pactos de Deus.
Essas obras são fundamentais para entender o desenvolvimento e a interpretação da teologia dos pactos ao longo da história cristã.
A CELEUMA SOBRE ISRAEL E O MILÊNIO
A discussão teológica em torno de Israel e do milênio representa uma das principais divergências entre o Dispensacionalismo e o Aliancismo. Essas duas abordagens interpretativas oferecem visões distintas sobre o papel de Israel na história da salvação e sobre a natureza do reino milenar mencionado no Apocalipse.
ISRAEL NA PERSPECTIVA DISPENSACIONALISTA
O Dispensacionalismo sustenta que Deus tem dois povos distintos com dois planos separados: Israel e a Igreja. Segundo essa visão, as promessas feitas a Israel no Antigo Testamento são literais e ainda aguardam cumprimento. John Nelson Darby, um dos fundadores do Dispensacionalismo, foi pioneiro ao articular esta divisão. A Bíblia de Referência Scofield, compilada por C. I. Scofield, popularizou esta interpretação ao destacar as diferenças entre Israel e a Igreja em suas notas explicativas.
Lewis Sperry Chafer, em sua obra “Systematic Theology”, argumenta que a restauração nacional de Israel e o cumprimento das promessas territoriais ocorrerão no futuro milênio. Esta visão é compartilhada por John F. Walvoord em “Israel in Prophecy” e Dwight Pentecost em “Things to Come”, ambos defendendo a ideia de que Israel será reestabelecido como uma nação teocrática durante o milênio.
PERSPECTIVA DE ISRAEL NA ALIANÇA
O Aliancismo, por outro lado, vê a Igreja como a continuidade espiritual de Israel. Este método interpreta as promessas do Antigo Testamento como cumpridas em Cristo e na Igreja. João Calvino, em suas “Institutas da Religião Cristã”, argumenta que as promessas feitas a Israel encontram seu cumprimento na Nova Aliança em Cristo, integrando judeus e gentios em um único povo de Deus.
Geerhardus Vos, em “Biblical Theology: Old and New Testaments”, e Meredith G. Kline, em “Kingdom Prologue”, sustentam que a Igreja é a verdadeira Israel de Deus, herdando as promessas espirituais feitas a Abraão. Esta interpretação é apoiada por Michael Horton em “Introducing Covenant Theology”, onde ele explora a unidade e a continuidade das alianças através da história bíblica.
A NATUREZA DO MILÊNIO
A questão do milênio, ou o reino de mil anos mencionado em Apocalipse 20, é outra área de intenso debate entre dispensacionalistas e aliancistas. Os dispensacionalistas geralmente defendem um milênio literal, no qual Cristo reinará fisicamente na Terra a partir de Jerusalém. Este período será marcado pela restauração de Israel e pelo cumprimento das promessas territoriais e espirituais feitas a eles.
O MILÊNIO NA PERSPECTIVA DISPENSACIONALISTA
Charles Ryrie, em “Dispensationalism Today”, e John F. Walvoord, em “The Millennial Kingdom”, são defensores desta visão pré-milenar. Eles argumentam que a segunda vinda de Cristo precederá o milênio, estabelecendo um reino teocrático literal em cumprimento às profecias bíblicas.
O MILÊNIO NA PERSPECTIVA ALIANCISTA
Em contraste, os aliancistas tendem a adotar uma interpretação amilenista ou pós-milenista do milênio. O amilenismo, defendido por Agostinho de Hipona em “A Cidade de Deus”, vê o milênio como um período simbólico que representa a era atual da Igreja, durante a qual Cristo reina espiritualmente. Teólogos contemporâneos como Anthony Hoekema, em “The Bible and the Future”, e Kim Riddlebarger, em “A Case for Amillennialism”, continuam a defender esta interpretação.
O pós-milenismo, por sua vez, acredita que a era atual da Igreja culminará em uma era dourada de paz e justiça antes da segunda vinda de Cristo. Jonathan Edwards, em suas obras sobre a história da redenção, e teólogos contemporâneos como Kenneth Gentry, em “He Shall Have Dominion”, são defensores desta perspectiva.
A celeuma sobre Israel e o milênio exemplifica as profundas diferenças entre o Dispensacionalismo e o Aliancismo. Enquanto os dispensacionalistas veem um futuro cumprimento literal das promessas feitas a Israel e um reino milenar literal, os aliancistas interpretam essas promessas de forma mais espiritual e simbólica, aplicando-as à Igreja e ao reino presente de Cristo. Compreender essas posições é fundamental para apreciar as complexidades e as implicações teológicas de cada abordagem.
NA TEOLOGIA BRASILEIRA
- Dispensacionalismo no Brasil
Entre os teólogos brasileiros que defendem o DISPENSACIONALISMO, destaca-se Antonio Gilberto, conhecido por suas obras “A Bíblia Através dos Séculos” e “O Calendário da Profecia”. Antonio Gilberto tem sido uma figura central na disseminação do DISPENSACIONALISMO NAS ASSEMBLEIAS DE DEUS NO BRASIL.
PRINCIPAIS AUTORES SOBRE O DISPENSACIONALISMO E SUAS OBRAS
- Antonio Gilberto
- Obra: “A Bíblia Através dos Séculos”
- Descrição: Este livro aborda a história da interpretação bíblica, incluindo uma explicação detalhada sobre o dispensacionalismo e suas aplicações na exegese bíblica.
- Russell Shedd
- Obra: “A Escatologia do Novo Testamento”
- Descrição: Embora não seja exclusivamente dispensacionalista, este livro analisa as doutrinas escatológicas do Novo Testamento, incluindo perspectivas dispensacionalistas.
- Esequias Soares
- Obra: “Erros Escatológicos que os Pregadores Devem Evitar”
- Descrição: Soares discute os equívocos comuns na interpretação escatológica, oferecendo uma visão clara sobre a posição dispensacionalista.
- Severino Pedro da Silva
- Obra: “O Calendário da Profecia”
- Descrição: Explora as profecias bíblicas através da lente dispensacionalista, detalhando as diferentes dispensações e os eventos escatológicos previstos.
- Ciro Sanches Zibordi
- Obra: “Erros que os Pregadores Devem Evitar”
- Descrição: Embora aborde vários temas, inclui discussões sobre a interpretação dispensacionalista das Escrituras, destacando a importância de uma exegese correta.
Esses autores contribuíram significativamente para a discussão e disseminação do dispensacionalismo no Brasil, cada um oferecendo perspectivas e análises valiosas sobre o tema.
- Aliancismo no Brasil
No campo aliancista, um dos principais nomes é Augustus Nicodemus Lopes, cujas obras “A Bíblia e seus Intérpretes” e “A Escatologia do Novo Testamento” são fundamentais. Augustus Nicodemus tem contribuído significativamente para a TEOLOGIA REFORMADA NO BRASIL, promovendo uma visão aliancista das Escrituras.
PRINCIPAIS AUTORES SOBRE O ALIANCISMO E SUAS OBRAS
- Augusto Nicodemos Lopes
- Obra: “O Que Estão Fazendo com a Igreja”
- Descrição: Embora aborde diversos temas, esta obra inclui discussões sobre a teologia dos pactos, defendendo uma perspectiva reformada e aliancista da fé cristã.
- Hernandes Dias Lopes
- Obra: “Romanos: O Evangelho Segundo Paulo”
- Descrição: Este comentário sobre Romanos explora a teologia dos pactos como um tema central para a compreensão do evangelho e da justificação pela fé.
- Solano Portela
- Obra: “A Bíblia e Sua Mensagem”
- Descrição: Este livro oferece uma visão panorâmica da Bíblia, destacando a teologia dos pactos e sua importância na narrativa bíblica.
- Heber Carlos de Campos
- Obra: “A Doutrina dos Pactos: Estudo Teológico dos Pactos de Deus com o Homem”
- Descrição: Uma obra dedicada exclusivamente à teologia dos pactos, explorando os diferentes pactos bíblicos e sua relevância teológica.
- Franklin Ferreira
- Obra: “Teologia Sistemática: Uma Análise da Fé Cristã”
- Descrição: Coautorado com Alan Myatt, este livro inclui uma seção detalhada sobre a teologia dos pactos, discutindo suas bases bíblicas e teológicas.
Esses autores brasileiros têm contribuído significativamente para a discussão e disseminação do aliancismo, oferecendo análises e perspectivas valiosas sobre a teologia dos pactos.
CONCLUSÃO
O exame comparativo entre o Dispensacionalismo e o Aliancismo revela uma tensão dialética intrínseca na interpretação bíblica que ressoa desde os primórdios do Cristianismo até a contemporaneidade. Estas duas abordagens hermenêuticas, embora formalmente sistematizadas em épocas distintas — o Dispensacionalismo no século XIX e o Aliancismo no século XVI — possuem raízes históricas que remontam à Igreja Primitiva e atravessam a Idade Média. A análise histórica elucidada por teólogos como Irineu de Lyon e Joaquim de Fiore, bem como por Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino, destaca a continuidade e a evolução dessas perspectivas dentro do desenvolvimento teológico cristão.
O Dispensacionalismo, com sua ênfase na interpretação literal das profecias bíblicas e na dicotomia entre Israel e a Igreja, propõe uma visão linear e segmentada da história da salvação, caracterizada por distintas dispensações divinas. Este método hermenêutico, promovido por figuras como John Nelson Darby e popularizado através da Bíblia de Referência Scofield, foi profundamente influenciado pela escatologia e pela expectativa de um futuro cumprimento literal das promessas bíblicas. Autores como Lewis Sperry Chafer, Charles Ryrie e Dwight Pentecost forneceram uma base teológica robusta para esta interpretação, impactando significativamente a teologia evangélica contemporânea.
Por outro lado, o Aliancismo, ou Teologia do Pacto, advoga uma continuidade teológica e histórica das alianças divinas, enxergando a revelação bíblica através da lente das alianças estabelecidas por Deus com a humanidade. Esta perspectiva enfatiza a unidade do povo de Deus e a interpretação simbólica e espiritual das promessas bíblicas. Desde as contribuições iniciais de João Calvino até os desenvolvimentos posteriores de Heinrich Bullinger e Herman Witsius, a Teologia do Pacto tem sido uma força dominante na tradição reformada. Autores contemporâneos como Geerhardus Vos, Meredith G. Kline e Michael Horton têm avançado esta abordagem, sublinhando a centralidade de Cristo na realização das alianças.
A celeuma teológica entre Dispensacionalismo e Aliancismo é particularmente evidente na questão de Israel e do milênio. Enquanto o Dispensacionalismo mantém uma distinção rigorosa entre Israel e a Igreja, prevendo um futuro milênio literal onde as promessas feitas a Israel serão cumpridas, o Aliancismo tende a ver a Igreja como a continuidade espiritual de Israel, interpretando o milênio de forma simbólica ou amilenista. Esta divergência interpretativa não apenas influencia a exegese bíblica, mas também molda a escatologia e a prática eclesiológica das comunidades cristãs.
No contexto brasileiro, tanto o Dispensacionalismo quanto o Aliancismo têm encontrado defensores influentes que adaptaram e promoveram estas teologias no cenário nacional. Teólogos como Antonio Gilberto e Augustus Nicodemus Lopes têm desempenhado papéis cruciais na disseminação e no aprofundamento dessas abordagens, contribuindo para um diálogo teológico vibrante e multifacetado. As obras de Russell Shedd, Esequias Soares, e Hernandes Dias Lopes, entre outros, refletem a riqueza e a complexidade deste debate teológico no Brasil.
Em última análise, a compreensão das origens, desenvolvimentos e implicações do Dispensacionalismo e do Aliancismo é fundamental para a apreciação das múltiplas facetas da teologia cristã. Reconhecer a historicidade e a teologia subjacente a essas abordagens não apenas enriquece a exegese bíblica, mas também fomenta um diálogo interdenominacional mais respeitoso. A tensão entre estas duas metodologias interpretativas continua a estimular o estudo bíblico, o que é excelente! Tal busca de conhecimento vem incentivando os teólogos a explorar novas dimensões da revelação divina e a refletir sobre a aplicação contemporânea das Escrituras. De novo, isto é ótimo!
Graduado em Segurança Pública, Pós-graduado em Direito Constitucional, Pós-graduado em Direito Penal e Processo Penal e aluno de graduação em Teologia.