DISPENSACIONALISMO E ALIANCISMO

Métodos de Interpretação Bíblica

A teologia cristã é uma área vasta e complexa, caracterizada por diversas escolas de pensamento e interpretações teológicas. Duas dessas correntes de pensamento, dentro teologia protestante, têm desempenhado um papel significativo na compreensão das Escrituras e da teologia cristã são o Dispensacionalismo e o Aliancismo; abordagens interpretativas da Bíblia que têm se destacado no âmbito das comunidades cristãs, tanto no Brasil quanto globalmente. Embora ambas sejam ramificações do cristianismo evangélico e compartilhem muitos princípios fundamentais, existem diferenças notáveis que afetam suas interpretações das Escrituras e suas visões do plano divino para a história humana. Para uma análise equitativa, é crucial considerar de maneira imparcial os fundamentos de cada um desses sistemas de interpretação bíblica.

 

DISPENSACIONALISMO

O dispensacionalismo, por exemplo, representa um sistema teológico que se baseia em duas estruturas centraisa interpretação literal das profecias bíblicas e a separação entre Israel e a igreja dentro do plano divino. Defensores dessa perspectiva argumentam que a Bíblia endossa claramente essa abordagem; bem como, o cumprimento literal das profecias referentes a Jesus Cristo no Antigo Testamento é visto como prova inequívoca dessa posição. Consequentemente, esse ponto de vista enfatiza a superioridade do método literal de interpretação.

Neste sistema teológico argumenta-se que, a falta de adoção da interpretação literal no estudo das Escrituras poderia resultar na ausência de um critério objetivo para sua compreensão. Assim sendo, sob essa premissa, a teologia dispensacionalista sustenta a ideia de dois grupos distintos: Israel e a igreja. De acordo com esse sistema, a Bíblia é dividida em sete dispensações: Inocência, Consciência, Governo Humano, Promessa, Lei, Graça e Reino Milenar.

A ênfase na divisão da história humana em diferentes “dispensações” ou eras, justifica-se diante das suas próprias características e propósitos específicos divinos. Uma das características distintivas do Dispensacionalismo é a ênfase nas profecias do Antigo Testamento, particularmente aquelas relacionadas a Israel, como eventos futuros que ainda serão cumpridos literalmente. Isso inclui a reconstrução do Templo de Jerusalém e o papel central de Israel nas profecias escatológicas. Os dispensacionalistas acreditam que Deus tem diferentes planos para Israel e a Igreja e que esses planos são independentes um do outro. Eles veem o retorno de Cristo em duas fases: a primeira para arrebatar a Igreja (o Arrebatamento) e a segunda para estabelecer Seu reinado milenar na Terra.

 

Autores proeminentes defensores do Dispensacionalismo:

  • John Nelson Darby, uma figura proeminente do século XIX, destacou a importância da interpretação das Escrituras à luz das diferentes dispensações, ressaltando a distinção entre Israel e a Igreja em obras como “Notas e Comentários sobre o Livro do Gênesis”.
  • Charles C. Ryrie, autor de “Dispensationalism Today”, desenvolveu ainda mais as ideias de Darby, enfatizando a interpretação das profecias bíblicas de forma literal. Ryrie argumenta que as diferentes dispensações representam vários aspectos do plano redentor de Deus, com a distinção entre Israel e a Igreja sendo central para a correta compreensão da escatologia bíblica.
  • C.I. Scofield, defensor notável do dispensacionalismo, ficou famoso por sua “Bíblia de Referência Scofield“. Scofield popularizou o dispensacionalismo entre os cristãos americanos, enfatizando a distinção entre Israel e a Igreja, bem como a interpretação das Escrituras à luz das diferentes dispensações. Sua abordagem teve um impacto significativo na teologia evangélica americana no século XX.

ALIANCISMO ou TEOLOGIA DO PACTO

Uma perspectiva de continuidade teológica: o Aliancismo, como corrente teológica, enfatiza a continuidade das alianças divinas ao longo da história bíblica. Também conhecida como Teologia do Pacto, sua abordagem teológica enfatiza a ideia de alianças entre Deus e a humanidade. Os aliancistas argumentam que as Escrituras podem ser compreendidas melhor quando vistas como um desenvolvimento progressivo das promessas de Deus por meio de alianças. Diante disto, existem várias alianças principais nas Escrituras, incluindo a aliança adâmica, a noaica, a abraâmica, a mosaica e a nova aliança em Cristo.

A centralidade da aliança de Deus com Abraão e, subsequentemente, com Israel, é enfatizada como uma promessa cumprida em Jesus Cristo, que estende a salvação a todas as nações. A perspectiva Aliancista interpreta as escrituras por meio de uma lente histórica, sublinhando a importância da interpretação contextual para entender o plano redentor de Deus. O cumprimento das promessas bíblicas é percebido como realização em Cristo e na igreja, representando uma continuidade da história de redenção. 

Uma característica essencial do Aliancismo é a crença de que as promessas feitas por Deus a Israel no Antigo Testamento foram transferidas para a Igreja no Novo Testamento, levando à ideia de que a Igreja é a continuação espiritual de Israel. Portanto, o Aliancismo tende a interpretar as profecias do Antigo Testamento, especialmente as relacionadas a Israel, de maneira alegórica e espiritualizada. Ou seja, a espiritualização/substituição (teologia da substituição) das promessas feitas a Israel no Antigo Testamento e sua aplicação à Igreja no Novo Testamento são justificadas pela rejeição de Israel e de seu Messias.

 

Autores proeminentes defensores do Aliancismo:

  • Geerhardus Vos, conhecido por sua obra seminal “Teologia Bíblica”, destaca a unidade e coerência do plano redentor de Deus, argumentando que as promessas feitas por Deus no Antigo Testamento são cumpridas em Cristo, evidenciando a continuidade entre as Escrituras judaicas e cristãs.
  • Herman Ridderbos, em seu livro “A Obra de Cristo e suas Etapas”, defende uma perspectiva aliancista, enfatizando a centralidade de Cristo na história da redenção. Ridderbos destaca a unidade dos propósitos divinos ao longo das várias etapas da história bíblica, ressaltando a importância das alianças estabelecidas por Deus com seu povo.
  • O. Palmer Robertson, relevante no campo do Aliancismo, em sua obra notável “Cristo no Antigo Testamento”, Robertson argumenta que a promessa de um redentor é um tema central que percorre toda a Escritura, unificando o Antigo e o Novo Testamento. Ele destaca a importância de compreender a obra redentora de Cristo à luz das alianças estabelecidas por Deus com seu povo ao longo da história.

Diferenças Chave (para facilitar segue a cor: Aliancismo e Dispensacionalismo)

Existem várias diferenças chave entre o Aliancismo e o Dispensacionalismo:

  1. Interpretação das ProfeciasO Aliancismo tende a interpretar as profecias, especialmente as relacionadas a Israel, de maneira espiritualizada e alegórica, enquanto o Dispensacionalismo as interpreta de forma literal.
  2. Relação entre Israel e a IgrejaO Aliancismo vê a Igreja como a continuação espiritual de Israel, enquanto o Dispensacionalismo acredita que Israel e a Igreja são entidades distintas com planos separados.
  3. Divisão da HistóriaO Dispensacionalismo divide a história em diferentes dispensações, cada uma com seu propósito específico, enquanto o Aliancismo enfatiza o desenvolvimento progressivo das alianças de Deus com a humanidade.
  4. EscatologiaO Aliancismo NÃO SEPARA a segunda vinda de Cristo em duas fases, enquanto o Dispensacionalismo defende o Arrebatamento pré-tribulacional seguido pelo reinado milenar de Cristo.

Conclusão

Em síntese, as diferenças fundamentais entre o Aliancismo e o Dispensacionalismo residem em suas abordagens distintas em relação à continuidade versus descontinuidade na história da salvação e ao papel de Israel na teologia escatológica. Ambos representam duas abordagens teológicas distintas na interpretação das Escrituras e na compreensão do plano de Deus para a história humana. Enquanto o aliancismo enfatiza a continuidade das promessas divinas ao longo da história, o dispensacionalismo destaca a distinção entre os diferentes períodos da história da salvação. Embora compartilhem raízes no cristianismo evangélico, suas diferenças fundamentais têm impacto nas interpretações das profecias bíblicas e na relação entre Israel e a Igreja. Ambos os sistemas teológicos desempenham papéis significativos no debate teológico e continuam a influenciar a interpretação das Escrituras entre estudiosos e teólogos cristãos contemporâneos. Ao considerar as obras dos principais autores em ambos os campos, torna-se evidente que a compreensão da relação entre o Antigo e o Novo Testamento continua a desempenhar um papel crucial na teologia cristã contemporânea.

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